O Norte Fluminense sediou duas prévias do I Fórum Estadual de Segmentos Artísticos do Rio de Janeiro semana passada, um encontro em Macaé, o segundo em Campos dos Goytacazes, no IFF Campus Centro. Na oportunidade, setores da sociedade civil entregaram um Manifesto em Defesa do Mercado Municipal de Campos à direção do Inepac e ao próprio secretário de estado de Cultura, André Lazaroni, que se comprometeu a estreitar o diálogo com o governador sobre a importância de revisão do processo de tombamento.
Já tombado, mas pela municipalidade, como Patrimônio Histórico de Campos dos Goytacazes (Resolução 005/2013 do Coppam), o Mercado Municipal de Campos foi inaugurado em 1921, construído com uma estrutura arquitetônica mesclando metal e cimento com cobertura de telhas francesas, iluminado por claraboias, seguindo o modelo do mercado de Nice, na França.
O jornalista e presidente da Associação de Imprensa Campista (AIC), Vitor Menezes, utilizou a palavra na plenária do Fórum de Segmentos para abordar o assunto. Segundo ele, o mercado já tem tombamento municipal o que seria suficiente para o município não permitir a obra que agride o seu entorno, mas infelizmente não foi isso o que o governo anterior fez, inclusive por meio dos seus representantes no Coppam.
“O tombamento estadual reforçaria essa necessidade de preservação e daria ainda mais condições ao poder local de aprofundar o debate e o convencimento da própria população, feirantes e demais comerciantes sobre a necessidade de retirar aquela estrutura que o empareda e discutir outro projeto, que contemple tanto a valorização do prédio histórico quanto a manutenção da vitalidade popular do local”, ressalta Menezes.
Renato Siqueira, do Observatório Social, responsável pelo pedido de tombamento junto ao Inepac, disse em reunião com o Ministério Público, que apesar de alguma descaracterização há de se resguardar a sua ambiência de valor histórico, que para isso há necessidade de retirada das construções de seu entorno. Siqueira disse, ainda, que o Coppam aprovou as obras do Shopping Popular em reunião polêmica, além de ter violado o artigo 6º, da Lei 8.487/13 que proíbe obra que infrinja a ambientação de prédios históricos.
Sérgio Linhares, diretor de Pesquisas do Inepac, lembra que ele escreveu o ofício que deu início ao processo de tombamento do Mercado. “Recebemos muitas assinaturas da sociedade civil”, frisa.
Para Bruno Costa, conselheiro estadual de Política Cultural, é preciso entendimento da importância da preservação da memória como mecanismo de fortalecimento da identidade local e projeção do futuro. “Dar visibilidade ao prédio histórico demonstra comprometimento com a própria cidade. Necessitamos urgente criar uma consciência de salvaguardar nossos patrimônios materiais e imateriais. Sociedades que já conseguiram vislumbrar isso criaram uma concepção positiva e propositiva, alimentando a cadeia simbólica, cultural e econômica”, ressalta o conselheiro.
O Manifesto, assinado por diversas instituições, relata a ausência de obras destinadas ao seu restauro e a execução de um projeto que desrespeita seu entorno a despeito de todos os alertas e esforços de diversas entidades culturais e históricas do município, quando nada disso seria necessário em razão de inúmeros projetos alternativos (todos apresentados nos últimos anos ao poder público municipal), os quais compatibilizam a preservação histórica com as necessidades de comerciantes e consumidores.
O documento informa também que atualmente em fase de auditoria pela Prefeitura de Campos, a obra do chamado "Camelódromo", erguido de forma criminosa de modo a empachar o prédio principal, é um atentado violento a um dos mais belos mercados do Brasil e um dos últimos remanescentes em seu estilo arquitetônico, prestes a completar seu centenário.
Cabe ressaltar que o prédio histórico já foi objeto de trabalho acadêmico no Mestrado de Políticas Sociais na Uenf. O pesquisador Carlos Freitas abordou “O Mercado Municipal de Campos dos Goytacazes: A sedução persistente de uma instituição pública”.
Segundo Wellington Cordeiro, conselheiro estadual e municipal de Cultura, o tombamento do Mercado Municipal de Campos dos Goytacazes como patrimônio arquitetônico e histórico pelo Inepac haverá de ser a grande esperança de salvaguardar este patrimônio do município. Isso porque mesmo tombado em esfera municipal, essa proteção não se fez valer. “Para além da burocracia documental, é preciso que a comunidade entenda que precisa entrar em campo, defendendo nossa história, senão dificilmente os governantes assumirão o que é seu dever, preservar e não destruir nosso patrimônio”, finaliza.
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