História

Registros iniciais para uma história da AIC


A Associação de Imprensa Campista é uma senhora atrevida de 87 anos. Nascida em 17 de Junho de 1929, sua formação se deu por iniciativa de trabalhadores da imprensa reunidos na filial de Campos dos Goytacazes do jornal “O Estado”, de Niterói. Sua primeira diretoria foi formada pelos jornalistas Sylvio Pélico Fontoura (presidente), Alcindor de Moraes Bessa (vice-presidente), Roberto Findlay (primeiro secretário), Antenor Vianna de Carvalho (segundo secretário), e Silvio Cardoso Tavares (tesoureiro), como registrou Jorge Arueira, no livro “Viver é ter amigos”, onde relata passagens do seu pai, o jornalista Latour Arueira.

Hervé Salgado Rodrigues, na obra “Campos – Na Taba dos Goytacazes”, afirma que a intenção da associação não era desenvolver atividades sindicais, “mas apenas defender a imprensa, seus direitos, sua liberdade”.

Além dos citados integrantes da primeira diretoria, participaram da reunião de fundação os jornalistas Julio Nogueira, Gastão Machado, Thiers Cardoso, Lily Tavares, Mucio da Paixão, Evandro Barroso, Theophilo Guimarães, Abdelkader Magalhães, Raimundo Magalhães Júnior, Cesar Tinoco, Horacio Souza, Prisco de Almeida, Carivaldino Martins, Ulisses Martins, Claudinier Martins, Osvaldo Tinoco, Everaldo Tinoco, Gumercindo Freitas e Porphirio Henriques.

Ao longo da sua história, alguns dos mais ilustres profissionais da imprensa e personalidades das letras e das artes passaram pela presidência da entidade, entre eles Otacílio de Alcântara Ramalho, Godofredo Nascentes Tinoco, Alcides Carlos Maciel, Oswaldo de Almeida Lima, Hervé Salgado Rodrigues, Latour Arueira, Herbson Freitas, Amaro Prata Tavares, Hugo de Campos Soares, José Dalmo, Hélio Gomes Cordeiro e Orávio de Campos Soares. Atualmente, a AIC é presidida pelo jornalista e professor Vitor Menezes.

Waldir P. de Carvalho registra, no livro “Campos depois do centenário”, que em 25 de setembro de 1943, a AIC, “que durante anos vinha funcionando em salas cedidas por outras entidades de classe da cidade, inaugurava sua sede (transitória) na Av. 7 de Setembro – altos da Confeitaria Francesa”, em solenidade que contou com as presenças do prefeito de Campos à época, Salo Brand, e o diretor do Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda, Marcos Almir Madeira, recepcionados pelo então presidente da entidade, Alcides Carlos Maciel.

Desde os anos 30, no entanto, como aponta Hervé Salgado Rodrigues, a Prefeitura de Campos havia doado à Associação de Imprensa Campos o terreno na Rua Tenente Coronel Cardoso. E uma obra lenta e polêmica, que gerou trocas de acusações entre os jornalistas Silvio Fontoura e Otacílio Ramalho, chegando a provocar a destituição deste último da presidência da entidade, foi iniciada.

Depois de breve passagem de Godofredo Tinoco pela presidência, também em período controverso, segundo Rodrigues, Maciel assumiu a entidade, dando impulso à construção da sede definitiva da associação, no terreno doado pela municipalidade.

A escritura do imóvel confirma a doação do terreno, feita em 15 de agosto de 1931, por meio do decreto número 88, do prefeito Oswaldo Luiz Cardoso de Melo, lavrada em cartório dois dias depois (Livro 168, folha 77). A doação foi condicionada à utilização para área para a construção da “Casa do Jornalista”, “sob pena de, na falta de cumprimento desse compromisso, ser o imóvel revertido à doadora”.

O compromisso foi cumprido. Marco ainda presente no hall edifício registra: “Casa do Jornalista – Construção iniciada na administração Otacílio Ramalho e concluída pelo presidente Alcides Carlos Maciel – 23/08/44”. Mas somente em 15 de maio de 1965, a escritura definitiva foi emitida, “retificando e ratificando” a doação, uma vez que os propósitos de utilização do imóvel haviam sido cumpridos e o terreno poderia, enfim, pertencer “sem embaraços” à Associação de Imprensa Campista.

Arueira registra o funcionamento, na sede da AIC, de entidades e movimentos como o AA (Alcóolicos Anônimos), Ordem Rosa-Cruz, Associação dos Idosos, Academia Pedralva-Letras e Artes, União Brasileira dos Trovadores, Grupo de Oratória, Clube de Poesia, entre outras. E Avelino Ferreira, no livro “Faria tudo outra vez”, lembra que a sede da associação serviu de espaço de reuniões para o movimento “O petróleo é nosso” em Campos, liderado pelo Centro de Defesa do Petróleo, fundado no município por João Barcelos Martins, Heraldo Viana e João de Faria.

No período da Ditadura Militar, serviu de abrigo para iniciativas ousadas para época, como a de sediar Conferência do Centro Norte Fluminense para Conservação da Natureza (CNFCN), em 14 de dezembro de 1979, com palestra do deputado federal Modesto da Silveira, que fazia pregação contrária ao projeto Jari, na Amazônia, defendido pelos militares e, em Campos, pelo deputado federal Alair Ferreira, como afirma Delso Gomes no livro “História do Partido Comunista em Campos”. Também é de Delso Gomes o relato sobre a palestra realizada pelo líder comunista Luiz Carlos Prestes no auditório da Associação de Imprensa Campista, em 5 de abril de 1980.

A sede da entidade também abrigou, em 1° de Maio de 1994, assembléia histórica de jornalistas que fundaram o Sindicato dos Profissionais em Comunicação Social do Norte e Noroeste Fluminense (Sicom), que, no início dos anos 2000, viria a deixar de existir em razão de ter a sua base territorial reivindicada pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro. Também esta última entidade se utilizou dos serviços da sede da AIC, tendo ali funcionado uma das suas delegacias sindicais. Mais recentemente, a entidade se empenhou em campanhas como a do movimento “Viva Monitor”, contra o fechamento do jornal Monitor Campista, ocorrido em 15 de novembro de 2009, e integrou, com o a Câmara de Vereadores e o Conselho de Preservação do Patrimônio Arquitetônico Municipal (Coppam), o grupo de trabalho que viabilizou o retorno ao município do acervo do jornal.

Ao longo destes 85 anos, a AIC tem sido cenário de resistência democrática e de defesa do papel da imprensa. Além disso, centenas de reuniões partidárias e de movimentos sociais, agitações e coletivos culturais, tiveram espaço na sede da associação. Seu mais tradicional evento, a “Semana da Imprensa”, realizada no período em que se comemora o Dia da Imprensa, em 1° de Junho, chega à 24ª edição em 2014. E no sexto ano está o projeto Cine Jornalismo AIC, que promove, de março a novembro, exibições de filmes sobre jornalismo e encontros com jornalistas e estudantes de jornalismo todo último sábado do mês. Outro evento na sede da entidade, o “Balada Curta”, que reúne várias expressões culturais, com ênfase na vocação de promover a produção audiovisual campista, teve a quatro edições realizadas, integrando campanha de arrecadação de livros infantis e infanto-juvenis para a Casa do Pequeno Jornaleiro.

Muito da história da AIC, no entanto, ainda está por ser contada. Está colocada a demanda para os pesquisadores que possam se interessar por esta tarefa e contribuir para a memória da entidade e do município.


Referências bibliográficas

ARUEIRA, Jorge. Viver é ter amigos – Latour Arueira. São João da Barra (RJ): Edição do autor, 2005.

CARVALHO, Waldir P. Campos depois do centenário. Campos dos Goytacazes (RJ): Edição do Autor, 1991.

FERREIRA, Avelino. Faria tudo outra vez. Campos dos Goytacazes (RJ): Edição do autor, 1995.

GOMES, Delso. História do Partido Comunista em Campos – Memórias de um Partido Revolucionário. Campos dos Goytacazes (RJ): Edição do Autor, 2000.


RODRIGUES, Hervé Salgado. Campos – Na taba dos Goytacazes. Niterói (RJ): Imprensa Oficial, 1988.

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